Hoje eu não vou falar, eu quero ouvir. Vamos lá, bota pra fora. Fala tudo que está engasgado, reprimido. Conta sua história; seu caso; o aperto que você passou; o medo que você sentiu; a violência que você sofreu. Eu não consigo imaginar o quanto é difícil conseguir superar tantas barreiras até conseguir gritar pro mundo as maldades de que é vítima, mulher. Você que foi educada pra ficar quieta; pra ser bonitinha; decorativa; educada; calada. Pra falar baixo; não beber; não fumar; não falar palavrão; não sair sozinha; não usar saia curta. Você que foi levada a acreditar que o seu sonho era ter um marido que fosse bom e cuidasse de você. Que te desse casa, comida e um monte de filhos pra criar. Desde o catecismo, te ensinaram que você foi feita de uma costela que estava sobrando no homem; que devia rezar pro Deus pai; que a única mulher sagrada é uma virgem mãe; que nenhuma outra foi boa o bastante pra ser apóstola. Como deve ser duro pra você arrancar essa mordaça e tentar encontrar quem te ouça, quem acredite em você, quem te defenda, quem compre sua briga. Vai falar com quem? Com o pai ou o tio? Com o marido?!! Com o patrão? Com o policial? O delegado? O Juiz? Todos homens! Todos cúmplices!